Adamastor Inácio
(adamastor@webdiaro.com.br)
Mazé Torquato Chotil
iniciou a carreira como repórter em Osasco, precisamente no jornal A Região. Na
década de 1980, formada em jornalismo pela FIAM (Faculdades Integradas
Alcântara Machado), viajou à Europa determinada a estudar, por um ano, francês.
Durante sua estada em Paris, conheceu e se casou com o poeta, cantor e
compositor Bernard Chotil. Pesquisadora, com mestrado e doutorado em Ciências
da Informação e da Comunicação pela Universidade de Paris/8, Mazé é autora do
livro Ouvrière chez Bidermann: une histoire des vies (relato sobre a vida de
operárias militantes de uma empresa de confecções de roupas masculinas de alta
qualidade). Nesta entrevista, ela fala do seu do segundo livro: Minha Paris
Brasileira, lançado no início da semana por conta da 21ª Bienal Internacional
do Livro de São Paulo, que termina amanhã. Nessa obra, Mazé coloca em evidência
as mil facetas da cidade, traçando em cada rota as peculiaridades que encantam
brasileiros de todos os tempos, pessoas que estão ou estiveram na capital francesa,
que ali viveram e deixaram suas marcas, a exemplo de D. Pedro II, Oscar
Niemeyer, Jorge Amado, Celso Furtado, Sebastião Salgado, Afrânio Garcia,
Vinicius de Moraes, Miguel Reale Júnior, Fernando Henrique Cardoso e tantos
outros.
Quando começa a história
da jornalista Mazé?
Sou mato-grossense,
agora do Sul, porque dividiram o estado depois do meu nascimento (1958). Queria
cursar faculdade, o que não existia na minha cidade nos anos setenta. Queria
ser jornalista. Então decidi vir para São Paulo, trabalhar e estudar. Cheguei,
portanto, na Vila Yolanda, aqui em Osasco, onde até hoje tenho os meus
familiares. Em 1975, trabalhava como auxiliar de contabilidade numa empresa de
Rolamentos (Ferroil), na Primitiva Vianco. À época, estudava contabilidade no
Colégio Fernando Dias Paes, no começo da rua Antônio Agu.
Fale um pouco do
início da sua carreira como repórter?
Prestei vestibular e
entrei para o curso de jornalismo da FIAM/FMU, em 1977. Senti que era realmente
o que queria fazer e, então, decidi trabalhar na imprensa local. Comecei no
jornal A Região (hoje pertence ao grupo Diário), sob a direção do João Macedo
de Oliveira, onde tinha como colega o jornalista Hairton Santiago. Depois fui
para O Grande Osasco, dirigido pelo Messias. A Folha da Região fiz com a
saudosa Eliane Lage, que trabalhava no Diário de Osasco. Juntas, fizemos também
o primeiro livro Quem é Quem em Osasco. Passei pelo Sindicato dos Químicos de
Osasco e região, assessoria de imprensa da prefeitura de Barueri, enfim,
batalhei muito na mídia de Osasco antes de querer conhecer a Europa.
Foi para ficar um
ano e já se passaram 25...
Pois é (risos). O
fato é que em fevereiro de 1985, com o final da ditadura militar, cheguei à
Europa com um projeto de um ano sabático, ou seja, ficar seis meses na França e
seis meses em Londres para aprender francês e inglês. Mas nem cheguei a ir para
a Inglaterra, porque conheci e me casei com um francês, o poeta, cantor e
compositor Bernard Chotil, com quem tenho duas filhas: Maïté e Clara.
E os seus primeiros
trabalhos na Europa?
Fiz artigos sobre
turismo para a Folha de São Paulo e, também, várias reportagens para a Rádio
Internacional da Holanda. Fiz muito free-lance.
Como foi o
lançamento do seu livro, Minha Paris Brasileira, na concorrida Bienal
Internacional de São Paulo?
Trata-se do meu
segundo livro. O primeiro, escrito em francês, foi lançado em abril, na França:
Ouvrières chez Bidermann. “Minha Paris Brasileira” teve três momentos nesta
semana: na segunda-feira, o lançamento foi na sede da Livraria Corporativa
(Portal da Leitura), na Vila Nova Conceição. Na terça, na Bienal do Livro, no
estande da mesma livraria. Em seguida, no Conarh - Congresso Nacional dos
Profissionais de Recursos Humanos. Lançar uma obra numa Bienal é sempre
emocionante porque para quem gosta de livros é uma passagem importante. Agora,
enquanto autora poder mostrar a minha obra, falar com o público, explicar como
a obra foi construída é de fato uma experiência riquíssima.
Foi sua primeira
participação em Bienal?
Não, porque sempre
gostei de participar da Bienal como leitora. Há 10 anos tive uma participação
como editora, porque trabalhava para a editora francesa Zero Hora, que é
pioneira no lançamento dos e-books (livros digitais).
Qual seria a leitura
de Minha Paris Brasileira?
É um guia turístico
que fornece uma série de informações para ajudar o turista a descobrir a
cidade-luz. É diferente de outros, porque foi construído especificamente para o
público brasileiro. É fruto de entrevistas que fiz com brasileiros que lá
moram, em diferentes bairros, a fim de obter de quem conhece profundamente os
lugares, quais seriam os que recomendariam para seus compatriotas. Eu diria que
o livro mostra Paris pelos olhos de brasileiros que partilham de uma estreita
convivência com a cidade. Eles indicaram pontos de predileção que valem a pena
ver, mas que o turista nem sempre pode descobrir sozinho. Citaram restaurantes
que frequentam, lugares de compras, enfim, minhas pesquisas foram por meio de
relatos de brasileiros que moraram em Paris, ou que tiveram alguma passagem
marcante... que deixaram traços nela. Por exemplo, nosso imperador D. Pedro II
morreu no Hotel Bedford; o pintor Victor Meirelles pintou “A primeira missa no
Brasil” entre 1853 e 1861 na cidade-luz; Oscar Niemayer, entre outras
contribuições à cidade, projetou o prédio do Partido Comunista no bairro 19º...
O que a teria
motivado a escrever o livro?
Gosto muito de
passear a pé por Paris. Ela é pequena, a gente pode atravessá-la de Norte a Sul
ou de Leste a Oeste em três horas. É uma forma de apreciar a cidade em
detalhes, perceber a arte de uma escultura de um prédio, o chafariz de uma
praça... Gosto de Paris e quis homenagear a cidade com este livro. Foi
gratificante escrever, porque se trata de algo diferente, ou seja, a obra é um
guia do ponto de vista brasileiro e, especialmente, para brasileiros.
Mazé Torquato Chotil viveu em um sítio
até os seis anos de idade. Foi desta experiência de sua tenra infância que ela
extraiu a inspiração para criar os textos do seu novo livro
"Lembranças do sítio",
editado pela ADC. Lançada no sábado, na Casa do Brasil, em Paris, a obra propõe
uma deliciosa viagem pelas memórias de uma menina que vê, com um olhar doce e
poético, os acontecimentos cotidianos de sua vida em meio à natureza. São 12
estórias, enfeitadas pelas cores e personagens da pintora naïf Lourdes
de Deus, que vive no Brasil.
O fogo, O banho, Para amadurecer bananas, Festival
de cores, Odores de terra molhada,Medo de bicho e Casamento
no sítio são alguns dos textos que nos fazem descobrir o universo
rural da autora.
Mazé, que é jornalista, pesquisadora e
doutora em Ciências da Informação e da Comunicação pela Université Paris VIII,
já publicou dois outros livros: "Minha Paris Brasileira" e "Ouvrière
chez Bidermann", em que conta a vida de operárias de uma indústria de
confecção.
Um comentário:
Acabo de descobrir a homenagem! Obrigada Edna, Antônio e todos os amigos dos "Anos dourados".
Mazé
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