9 de nov. de 2015

TÚNEL DO TEMPO ... ESCRITO POR ANTONIO DOARTE.

QUEM SOMOS NÓS. DALMIR ALVES DE MEDEIROS E MARIA  APARECIDA MEDEIROS Traz hoje em sua quarta edição os pioneiros DALMIR ALVES DE MEDEIROS e MARIA APARECIDA MEDEIROS, que chegaram aqui em 1962, instalando a conhecida loja de tecidos “Casa Nordestina”, empregadora de muita gente boa.
Dalmir tinha um porte meio avantajado (ou eu era miúdo demais). Porte altivo, dando a impressão de que o nariz estava sempre acima das orelhas, como se procurasse algo à distância.
Extremamente simpático e bem humorado, era o típico comerciante, de bem com a vida!
Igualmente agradável a Da. Cida. Em todos os eventos, lá estavam ambos, participando ativamente.
Embora houvesse alegres eventos, a vida não era uma eterna festa - e as coisas não vinham “duguvêrno”, como se quer hoje. Era a comunidade que arrancava da própria carne e “fazia”, com campanhas de arrecadação de doações (e valia a galinha, o leitão, os ovos que se deixava de comer, a saca de cereal), com quermesses, com tudo que circulava entre nós...
O valoroso casal era presença constante nas quermesses para arrecadar fundos destinados às diversas obras comunitárias e como era divertido ver Dalmir, Tatá, Morishita, Orlando Antunes da Silva, Enofre e seus irmãos, Manoel Reino, Schiave, Yamamoto, Dr. Nildo, Ozéias, Peixoto, Adão Ponpeu de Toledo, Érico, Banhara, Etelvino, Primo, Júlio, Paulo Preto e Paulo Branco, Yamato, Luizão, Francisco Oiés, Enedino, Zuzu, Joele, Alexandrino, Chalana, Chico Leite, Santino, Lourival, Genario, Alcides, Antonio Gomes, Zé Josino, Zequinha, Deodato, Joaquim Colaço, Onofre Bernardino, João da Santa Rita, Aparício, Tóti (Aristóteles), Alexandrino, Antonio Borges, Azevedo, Borgato, Tatá, Briccati, Zé Cabral, e tantos outros, elevando os “lances”, disputando entre si a aquisição das “prendas”, muitas vezes para, vencendo, pedir ao leiloeiro que a entregasse ao “segundo colocado”! Nós, então jovenzinhos, ficávamos extasiados, presenciando aquelas cavalheirescas atitudes.

Sim, leitores, era ENCANTADOR presenciar tudo aquilo!
Dentre as diversas e grandiosas obras que tiveram as mãos de Dalmir, de Cida, de todos os citados e de uma infinidade da plêiade de gloriadouradenses não citados aqui por absoluta falta de espaço, destaca-se o hospital Lilita de Lemos.
O casal teve quatro filhos: Tércia, Dalmir Alves de Medeiros Filho, Edson e Judson. Com eles morava também o Denir, irmão caçula do Dalmir.
TÉRCIA, de quem me lembro como aluninha do Santa Terezinha, abrilhanta sempre os nossos encontros, com sua delicada exuberância, com seu jeito contagiantemente alegre que herdou dos pais.
É dela uma das frases mais emocionantes que li, uma semana depois de nosso primeiro encontro, em 2013: “FOI UM SONHO MUITO BOM, DO QUAL ME RECUSO A ACORDAR”...

Qualquer dia desses conseguiremos trazer também o patriarca e os demais filhos para brincarmos de AMIGOS DOURADOS, porque as ruas de Glória estão impregnadas dessa família de pessoas do bem. Principalmente o lado esquerdo do final da descida de quem vem da quarta para a quinta linha, cercanias do famoso “Bar e Sorveteria Copacabana” e da já citada “Casa Nordestina”. Ou, para os boêmios, quem olha do "Bar do Mr. Jack"...
ANTONIO DOARTE



JOSÉ DE AZEVEDO e APARECIDA MARTINS AZEVEDO são os pioneiros desta nossa especialíssima QUINQUAGÉSIMA edição da série “QUEM SOMOS NÓS – Histórias sem fim”...
Esta data marca os SETENTA E NOVE ANOS do nascimento desse que foi um dos homens que mais amaram nossa GLÓRIA DE DOURADOS.
Nasceram ambos em 1937 no Estado de São Paulo. Conheceram-se quando tinham cerca de 14 anos. Ele, encantado pela beleza e meiguice da garota, esforçava-se por lhe enviar umas paçoquinhas, pelo irmão dela, maneira de lhe demonstrar seu interesse. Depois descobriu que o portador comia quase todas, mas o importante mesmo é que ele vivia feliz por pensar que estava “agradando” a mocinha.
Ele terminou mudando-se para Mato Grosso e só em 1955, vencido pela paixão, foi que “bateu o barro” nela, por carta, e colou. Casaram-se em 1957.
Um dos primeiros e mais importantes feitos de JOSÉ DE AZEVEDO foi, segundo ele, “encontrar, escolher e conquistar para viver consigo a vida inteira uma criaturinha tão sublime quanto APARECIDA MARTINS AZEVEDO, a quem ele chamava simplesmente CIDA”.
Depois de mais de três décadas em que não nos víamos, ela estava preparando um jantarzinho para nós e ele me disse: “Olha, Antonio, como minha eterna namoradinha continua linda”!
Quem, afinal, foi JOSÉ DE AZEVEDO?
Bem, há um antigo adágio popular que diz: “O homem, para cumprir sua missão, deve pelo menos criar um filho, cultivar uma árvore e escrever um livro”.
Se apenas isso fosse o suficiente, já lhe sobrariam realizações, afinal, criou sete filhos, plantou e cultivou flores e árvores de montão e escreveu/publicou mais de uma dúzia de livros, tendo se tornado Membro da Academia Matogrossense de Letras.
Mesmo quando estava em tratamento, em Barretos, inventou a tal “Casa de apoio”, para acolher os pacientes que vinham (vêm) do nosso Estado.
Ainda lá, percebendo certo terreno baldio, contíguo ao GRANDE E IMPORTANTE HOSPITAL, pediu permissão para limpar o terreno e plantar flores naquele local.
Obtida a permissão, criou no lugar um jardim, que viria a vencer o concurso de melhor e mais bonita área ajardinada da cidade, carreando para o HOSPIRAL um prêmio de DEZ MIL REAIS.
Nem sempre simpático, nem sempre amável, mas completamente acessível e participante quando alguém, indivíduo ou coletividade, precisasse realmente dele. E os anseios da coletividade sempre prevaleciam sobre os interesses individuais.
O mais brilhante visionário, sonhador, idealizador e realizador que conheci.
Antes de se servir, procurava ver se todos estavam servidos ou tinham como se servir. Era capaz de dar voltas enormes, elastecer caminho, só para dar atenção a alguma família humilde, às vezes até levando um carrinho para um menino, ou uma boneca para uma menina cujos pais fossem REALMENTE desprovidos de recursos, mas nunca o vi gabar-se ou aproveitar-se desses gestos de gentileza e atenção.
Sabia contar histórias, escrevê-las com humor, sabia rir das piadas alheias e contar as próprias, gostava de chuva, de sol, do canto dos pássaros. Em sua casa existia uma radiola que ele ligava à noite, passando um disco com os cantos dos pássaros, os sons malucos dos insetos. Apagava as luzes para criar realismo. Chamava-se “Inferno Verde” o tal disco.
Tão extenso é o conjunto de realizações desse casal, que se torna impossível enumerar.
JOSÉ DE AZEVEDO fez o primeiro contato com a região que viria a ser Glória, quando tinha dezoito anos.
A mando do pai, MANOEL ALVES DE AZEVEDO, e depois de preparar uma boa matula de queijo e rapadura, viajou de bicicleta da Colônia de Itaporã até o Jateí (cerca de cem quilômetros) na época.
Ali chegando não se entusiasmou pelo local, mas ouviu rumores de que a uns quinze ou vinte quilômetros adiante seria criado um povoado. Rumou para lá, gostou e marcou um pedaço de terra.
Viveu, portanto, a realidade de Glória desde seu nascedouro, participando ativamente de tudo quanto ali veio a ser construído por cerca de meio século.
Peço-lhes licença para dar a palavra ao próprio JOSÉ DE AZEVEDO, transcrevendo a introdução que ele fez para o livro de sua autoria “HISTÓRIAS QUE VIVI”: “Um dia, tudo o que aqui relato ficará muito distante, como um sonho que passou. E para que alguém possa relembrar este sonho necessitará folhear as páginas deste modesto livro, que visa ser apenas um caminho deste sentimental passeio retrospectivo.
Escrevê-lo, foi tarefa difícil, dolorida. Não por desconhecimento dos fatos, pois, tendo vivido-os, estão nitidamente arquivados nos meandros da memória; bem como também guardei, com muito carinho, muitas peças vivas da nossa história, pensando em doar este acervo, à nossa cidade, quando ela vier a ter melhor consciência cultural.
Também dolorido foi relembrar, um a um, os bons amigos que tivemos e que conosco ombrearam, para construir esta comunidade. Gente que, com sua dedicação e amizade, nos marcaram de forma indelével e que já partiram para sempre. Muitas vezes, interrompi a feitura deste livro, impedido pelas fortes emoções provocadas pela lembrança de fatos felizes e companheiros profundamente estimados. Tinha que aguardar os sentimentos arrefecerem um pouco, para continuar o diálogo com o papel, senão o coração não aguentaria. E assim, solitariamente, com a caneta na mão, chorei muitas e doloridas lágrimas.
A Saudade é doce, mas também é cruel, impiedosa e mata.
Cheguei a Vila Glória, na flor de minha juventude, com 18 anos de idade.
Solteiro, algum tempo depois contraí núpcias com o grande amor de minha vida, a Aparecida, e ali nasceram nossos sete filhos, e ali os criamos...
Assim, vivi Glória de Dourados, com tudo o que ela teve ou tem de bom: amigos; tranquilidade; fartura; lutas; conquistas e epopéias. E também com tudo o que tinha ou tem que não seja bom: problemas de toda ordem; e sobretudo uma grande falta de amor a si própria.
Amo-a profundamente e por este amor nunca medi sacrifícios pessoais. Agora, sentindo que a contagem dos anos vai se avolumando, resolvi colocar no papel pelo menos parte daquilo que vivi e testemunhei ao longo desses anos porque senti, modéstia à parte, que sou um dos maiores repositórios de sua história, e nunca se sabe quando é a despedida final”.
E para finalizar, novamente transcrevo as palavras do próprio homenageado JOSÉ DE AZEVEDO: “Em Vila Glória vivemos CIDA e eu, cerca de quarenta e nove anos. Ali trabalhamos incansavelmente todo esse tempo, mais para a comunidade local do que para nós mesmos. Fui tabelião por 29 anos, escrivão do Juízo, participei da criação do Município, da instalação da Comarca, da criação da Paróquia Nossa Senhora da Glória, fui vereador na Câmara de Dourados, Prefeito em Glória por cinco mandatos. Cida foi escrivã substituta por mais de dez anos, Secretária Municipal de promoção social cinco vezes, três delas sem qualquer remuneração. Participamos da criação de quase tudo que nela existiu ou existe”.
Muito jovem tornou-se respeitado
em todos os lugares por onde andou. Sua palavra e seu comportamento tornaram-no merecedor de crédito em todos os cantos, por parte de todas as pessoas, inclusive no âmbito estadual e federal.
Desde seu primeiro mandato de Vereador por Dourados (com pouco mais de 20 anos de idade e tendo sido o mais votado no Estado de Mato Grosso), sua atuação foi além do próprio município que representava.
Num desses momentos vêmo-lo tratando com o próprio então Presidente da República, João Goulart (vide foto), no Rio de Janeiro. O mesmo Presidente, na recepção que lhe fazem em Dourados, o cumprimenta, tratando-o pelo nome e o abraça.
Dentre seus incontáveis feitos estão a criação do Município de Glória e a transformação de uma “vila” em uma das então mais prósperas cidades, com arrecadação das mais expressivas do Estado.
Foi um dos idealizadores e ativos participantes do MOVIMENTO NACIONAL PELA AUTONOMIA MUNICIPALISTA. Durante uma das reuniões, em Brasília, nosso pioneiro sofreu um desmaio. Quando acordou estava sendo cuidado pelo médico do então Presidente da República, José Sarney. O maluco havia se submetido havia três dias a uma séria intervenção cirúrgica e fugido do hospital direto para a tal reunião...
Dentre as honrarias em vida recebeu vários títulos de CIDADANIA de muitas localidades, dentre as quais a de “Cidadão do Estado da Bahia”.
Eis as últimas palavras que JOSÉ DE AZEVEDO nos escreveu, despedindo-se da vida pública: “Ao chegar ao final de meu último mandato como Prefeito desta cidade, quero agradecer a Deus por ter-me sempre inspirado e fortalecido diante das dificuldades, bem como render minhas homenagens aos pioneiros desta terra, bons companheiros de sertão que comigo tanto lutaram pelo bem da nossa amada GLÓRIA DE DOURADOS, dos quais jamais esquecerei”.
APARECIDA AZEVEDO e os sete filhos do casal (JOSÉ DO CARMO, MIRIAM, VALDIR, GILBERTO, SUELY, TANIA e ANELY) aproveitam essa oportunidade para enviar lembranças a todos os GLORIADOURADENSES, bem como a todos os que têm laços sentimentais com GLÓRIA DE DOURADOS.
Da prole dos AZEVEDO haveremos de falar futuramente, pois nossas histórias não têm fim...

3 de out. de 2015

GLÓRIA DE DOURADOS MS ... DÉCADA DE 50

Década de 50
                Os anos 50 do município de Glória de Dourados forma marcados pelo pioneirismo e a coragem dos colonos imigrantes que aqui se instalavam para a construção de seu futuro.
                Abertura das picadas em meio à mata virgem, a demarcação dos lotes e do local onde se ergueria a futura cidade, o estabelecimento das primeiras lojas comerciais de secos e molhados, e a preocupação dos primeiros moradores com os serviços básicos marcaram o inicio de uma história de lutas, dificuldades, desafios e de muitas vitórias.
                Foi no dia 20 de maio de 1956, um domingo, que mais ou menos 300 colonos invadiram a área destinada a construção de futura sede do município e começaram a fundação da cidade.
                Após a construção da primeira casa, o “Bahia Hotel”, os colonos seguiam balizando o alinhamento das futuras ruas, seguindo um planejamento prévio demarcando: praças, jardins, igreja, hospital, cadeia pública, campos de futebol, aeroporto, cemitério...
                A primeira capela da Igreja Católica construída no ano de 1956, media 6 x 9 metros, e foi doada à comunidade pelo Sr. Antonio Tonani, na época o dono do “Jornal de Dourados”. É neste local que se encontra atualmente a igreja matriz da Nossa Senhora da Glória.
                O lançamento da pedra fundamental da cidade aconteceu no dia 27 de dezembro de 1957, em meio a grande euforia dos colonos participantes. Ao encerrar o seu discurso, o orador do dia, padre Aguiar, disse: “Esta ainda será a Glória de Dourados”. Dai, surgiu o nome da cidade.


GLÓRIA DE DOURADOS MS.>>>ÁLBUM DE FOTO ... 02

GLÓRIA DE DOURADOS MS>>>ALBUM DE FOTO >>>>01

31 de ago. de 2014

HILTON MILAN, O CONTADOR DE HISTÓRIAS


Dos anos que vivi em Glória de Dourados, como primeiro gerente da agência do Banco Bemat, de 1967 a 1973, tive a grata oportunidade de conviver com uma comunidade das mais ricas em termos de diversidade cultural, religiosa, política, enfim uma mescla de caracteres, que formam o caldeamento de um grupo social, raça ou povo.
Dessa convivência guardo com saudade a lembrança de amigos, pessoas maravilhosas, com as quais aprendi muito. Desde as mais simples, como os agricultores nordestinos, que eram a maior parte da clientela do banco, os estudantes, os comerciantes, os profissionais liberais, até as mais graduadas, como as autoridades do município.
Dentre essas pessoas que não vou aqui nomear, até porque não caberia nesta página, como também poderia esquecer alguém, visto que nossa memória falha vez ou outra, destaco a figura do nosso conterrâneo e munícipe Hilton Milan, o exator fiscal.
Foi um grande amigo. O Hilton era uma figura ímpar. Homem de peso, no sentido estrito do termo, pois era bem gordo. Devia pesar seus 120, 130 quilos bem distribuídos, pois era também um homem alto, dos seus 1,80m por aí. Era um contador de histórias nato. Nascido e criado em Dourados, viveu a transformação daquela vila rural na linda cidade que é hoje. Ali Hilton viveu sua infância, adolescência e juventude até se tornar a pessoa que foi e como o conhecemos.
Colecionou durante toda sua vida os episódios vividos no dia a dia de suas andanças pela vila de Dourados e adjacências, transformando-os em relatos que ele não cansava de contar com riqueza de detalhes e nomes dos protagonistas dos acontecimentos, sempre muito divertidos e engraçados, que ele com muita habilidade fazia com que a gente se sentisse fazendo parte do caso.
Entre os muitos dos seus casos, um é o de um Inspetor de Quarteirão, espécie de sub-delegado de um distrito, que era o responsável pela ordem e a Lei na localidade. Dom Recalde era um cidadão filho de paraguaios, nascido e criado ali no distrito de Itaum, onde fora alfabetizado, tinha lá seu pequeno comércio e exercia ali o tal cargo. Todo mundo era meio brasileiro, meio paraguaio, falava-se português, espanhol, tupi-guarani e levava-se a vida em bela harmonia, sem violência e também sem muitos compromissos. Todo mundo à vontade metidos nos seus xiripás, espécie de calça comprida e larga, bem solta, tipo bombacha, que usavam com sandálias. Tomava-se tereré o dia inteiro. Era só alegria. O tipo de vida que se pediu a Deus.
De certa feita o Governador do Estado Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo, foi cumprir um compromisso oficial de visita à cidade de Dourados e aproveitou o ensejo para inaugurar ali algumas obras. A cidade por sua vez, organizou uma festa para recepcionar a autoridade e fez com antecedência uma intensa programação para retribuir a atenção de Sua Excelência.
Convidaram todas as autoridades para comparecer às homenagens ao Governador e recomendaram que os homens deveriam estar de terno e gravata.
Quando Dom Recalde recebeu o convite ficou de imediato encabulado. Como ele que não tinha costume de usar terno, gravata, sapato iria enfrentar um dia todo vestido assim? Bem, mas é um dia só, vamos lá. Foi à cidade, comprou a vestimenta, os sapatos, enfim todos os apetrechos.
No dia do evento bem cedo, Dom Recalde se meteu dentro do terno preto de gasimira, espécie de lanzinha, bem quente, camisa de colarinho engomado, gravata, sapato de verniz preto bem brilhante, montou no seu cavalo e tocou para Dourados. Colocou o cavalo numa estrebaria ali perto da praça, onde poderia apanha-lo tão logo terminasse a solenidade.
Lá pelas oito horas, já bastante impaciente e com um sol já incomodando começou o desfile dos estudantes, depois vieram os soldados da polícia militar, depois os soldados do 11 RC, de Ponta Porã, que vieram desfilar em Dourados para homenagear o Governador. Nisso já era quase meio dia. E Dom Recalde lá em cima daquele palanque das autoridades, onde só se servia refrigerante e água sem gelo, perpassava pela sua mente a sua guampa de tereré com sua água bem fresquinha, seu xiripá bem largo e solto, sua sandália de couro cru mas frouxa e confortável, a sombra do seu caramanchão de maracujá e ele ali. Suor descendo pela barriga abaixo e os pés pegando fogo dentro daqueles sapatos de verniz, quando terminou o tal desfile.
Dom Recalde bendisse aos céus! “Gracias Diós”! Daqui a pouco vou estar no lombo do meu baio rumo ao meu paraíso. Vou me livrar desse castigo, mi Diós.
Que nada! Ainda tinham as obras que seriam inauguradas. Lá se foram os convidados para o local da inauguração e Dom Recalde junto. E o suor escorrendo. Já tinha chegado aos sapatos. Às 12:00hs anunciaram a última inauguração, seria a Casa Paroquial e a apresentação do novo bispo da Arquidiocese. Discurso vai, discurso vem e Dom Recalde já chorando por dentro, dizia:”Mi Diós que fue que hizo yo para merecerlo?” (Meu Deus, que foi que eu fiz pra merecer tudo isso?)
Lá pelas 13:00hs encerrou-se a festança, mas antes foi servida uma rodada de chocolate quente com bolo no salão de festas da Arquidiocese, que Dom Recalde teve ainda que enfrentar. Nessas alturas o terno já estava ensopado, os sapatos e até a gravata estavam encharcados. Mas afinal acabou o tormento de Dom Recalde.
Correu para a estrebaria, pegou seu cavalo, montou e saiu louco correndo pro seu sítio. Não quis nem olhar pra traz. Poucos minutos estava chegando pois seu pingo era realmente ligeiro. E por ser um grande amigo do seu animal resolveu também premiá-lo com a liberdade. Soltou o animal e abençoou seu trabalho.
Nem bem Dom Recalde tinha sentado no banco para tirar os sapatos, aquelas meias, aquela calça de gasimira, aquela camisa de colarinho, aquela desgraçada daquela gravata, eis que chega dois soldados da sua guarda pessoal dizendo:
“Senhor, le trago a cá um hombre qui estando borracho lo destruyó toda su família a golpes de machete. Lo que debemos hacer com el?” (Senhor trazemos-lhe um homem que por estar embriagado, destruiu sua família a golpes de facão. O que devemos fazer com ele?)
Dom Recalde pensou, pensou, por alguns instantes, refletiu sobre a vida por mais alguns instantes e soltou a sentença condenatória ao infeliz que havia cometido aquela desgraça tão grave e por isso merecia um castigo muito severo:
“Biem. No tenemos cárcere! Pero. Haga lo seguiente: Pongale um terno preto de gasimira, um sapato de verniz, uma camisa de cuello duro, uma corbata bien apretada, de-lhe uma taça de chocolate biem caliente e dejalo desgraciado que se vá embora”. (Bem. Não temos cadeia! Façam o seguinte: Ponham-no dentro de um terno preto de gasimira, metam-lhe um sapato de verniz, uma camisa de colarinho engomado com uma gravata bem apertada no pescoço, de-lhe uma xícara de chocolate bem quente e deixem que o desgraçado vá se embora).

29 de mar. de 2014

SÓ LEMBRANCAS E NADA MAIS . . .




23/09/2015
Antonio Doarte de Souza "Tem gente que gosta de desconcertos, que nem eu, e daí eu não mexo com elas. Já tão prontas". Tive que transcrever, Regis Gennaro Regis e Diobelso Teodoro de Souza. Certa vez, em meus devaneios de grandeza, encontrei na veneranda e tradicional Padaria Santa Tereza (Praça João Mendes), Paulo Bonfim, "O Príncipe dos Poetas". Pedi licença para acariciar sua prateada cabeça, percrustrando qual seria o mistério nela embutido, para fazer dela brotar tão delicados versos. Hoje, ao me deparar com tão eloquentes versos, brotados da privilegiada mente de um Filho de Glória, não posso deixar de me sentir também privilegiado por ter convivido com o menino-poeta que conquistava "reinados debaixo dos pés de manga do quintal. Por ali eu sempre me senti um rei. Penso que sempre fui um Rei menino".... Diz que "sempre se sentiu um rei"... Mal sabe ele que era, de fato, um "rei". O filho de Dona Ester sempre será, para nós, meninos de Vila Glória e adultos do mundo, um rei, por explorar, como ninguém, as sombras escondidas de nossas mais remotas relíquias...

  • Diobelso Teodoro de Souza Mandou bem meu amigo Antonio Doarte. Suas palavras comovem muito.
  • Diobelso Teodoro de Souza No 3° ano primario a Prof. Vânia colocou um mural forrado ao lado do quadro negro, escrito: Cantinho do 3° Ano, onde cada um podia pregar seus versinhos. Ela estimulava essas coisas. A sala do 3° ano ficava bem em frente ao quiosque q minha mãe e irmãos mais velhos tocavam.
Antonio Doarte de Souza Também acho, como você, Regis Gennaro Regis, que Vânia Maria Medeiros Doarte deve estar muito feliz, dizendo para as demais estrelas: "Olhem, que menino prodigioso esse Diobelso Teodoro de Souza: mais de quatro décadas depois, lembra minha lição, segundo a qual, "...os poetas podem provocar reajustes nos corações e até fazer reparos em almas despedaçadas, às vezes até com uma só palavra. Basta que ela tenha sido bem polida e engrenada"... Coisas da vida! E da eternidade, também!

PAULO ROBERTO RODRIGUES, gloriadouradense de coração puro, escreveu no dia 02 de maio de 2015 a mensagem abaixo, que me foi trazida pela confraternizante de primeira hora NEIDE KOHARA, professora e doutora em humildade.
Por afetar a TODOS NÓS e acreditando que sentirão emoção igual à minha e entenderão por que ficamos meio "malucos" antes, durante e depois de cada encontro, sugiro que a leiam.
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"Paulo Roberto Rodrigues
2 de maio
Boa tarde
Amigos dos anos Dourados. Acabo de sair do nosso terceiro encontro e sinto a necessidade de fazer algumas colocações. Não desfazendo dos últimos encontros, dos quais também participei. Com as devidas diferenças como o grande impacto do reencontro do primeiro. Posso dizer com certeza que este estava muito bem organizado. Quero dar os parabéns à equipe que escolheu com esmero desde os pequenos detalhes da decoração, as refeições e a ótima música que nos foi oferecida tanto com os cantores diurnos como as duas bandas que se apresentaram no baile. O mais importante e que realmente não tem preço é ver antigos moradores do nosso município com tanta alegria no compartilhamento. Sensibilizados ao se verem mais amadurecidos, porém, com a mesma energia interna que os movia em outras épocas. É emocionante ver olhos marejarem de emoção e outros brilharem com tamanha felicidade que dá para identificar neles a juventude de outros tempos. É gostoso ver as musas de outrora transformadas em belas mulheres maduras com as sábias marcas do tempo que traçam a vida. Minha gratificação foi enorme. Novamente parabéns a diretoria e desejo a nova muito sucesso!"
EM RESPOSTA...