9 de nov. de 2015

TÚNEL DO TEMPO ... ESCRITO POR ANTONIO DOARTE.

QUEM SOMOS NÓS. DALMIR ALVES DE MEDEIROS E MARIA  APARECIDA MEDEIROS Traz hoje em sua quarta edição os pioneiros DALMIR ALVES DE MEDEIROS e MARIA APARECIDA MEDEIROS, que chegaram aqui em 1962, instalando a conhecida loja de tecidos “Casa Nordestina”, empregadora de muita gente boa.
Dalmir tinha um porte meio avantajado (ou eu era miúdo demais). Porte altivo, dando a impressão de que o nariz estava sempre acima das orelhas, como se procurasse algo à distância.
Extremamente simpático e bem humorado, era o típico comerciante, de bem com a vida!
Igualmente agradável a Da. Cida. Em todos os eventos, lá estavam ambos, participando ativamente.
Embora houvesse alegres eventos, a vida não era uma eterna festa - e as coisas não vinham “duguvêrno”, como se quer hoje. Era a comunidade que arrancava da própria carne e “fazia”, com campanhas de arrecadação de doações (e valia a galinha, o leitão, os ovos que se deixava de comer, a saca de cereal), com quermesses, com tudo que circulava entre nós...
O valoroso casal era presença constante nas quermesses para arrecadar fundos destinados às diversas obras comunitárias e como era divertido ver Dalmir, Tatá, Morishita, Orlando Antunes da Silva, Enofre e seus irmãos, Manoel Reino, Schiave, Yamamoto, Dr. Nildo, Ozéias, Peixoto, Adão Ponpeu de Toledo, Érico, Banhara, Etelvino, Primo, Júlio, Paulo Preto e Paulo Branco, Yamato, Luizão, Francisco Oiés, Enedino, Zuzu, Joele, Alexandrino, Chalana, Chico Leite, Santino, Lourival, Genario, Alcides, Antonio Gomes, Zé Josino, Zequinha, Deodato, Joaquim Colaço, Onofre Bernardino, João da Santa Rita, Aparício, Tóti (Aristóteles), Alexandrino, Antonio Borges, Azevedo, Borgato, Tatá, Briccati, Zé Cabral, e tantos outros, elevando os “lances”, disputando entre si a aquisição das “prendas”, muitas vezes para, vencendo, pedir ao leiloeiro que a entregasse ao “segundo colocado”! Nós, então jovenzinhos, ficávamos extasiados, presenciando aquelas cavalheirescas atitudes.

Sim, leitores, era ENCANTADOR presenciar tudo aquilo!
Dentre as diversas e grandiosas obras que tiveram as mãos de Dalmir, de Cida, de todos os citados e de uma infinidade da plêiade de gloriadouradenses não citados aqui por absoluta falta de espaço, destaca-se o hospital Lilita de Lemos.
O casal teve quatro filhos: Tércia, Dalmir Alves de Medeiros Filho, Edson e Judson. Com eles morava também o Denir, irmão caçula do Dalmir.
TÉRCIA, de quem me lembro como aluninha do Santa Terezinha, abrilhanta sempre os nossos encontros, com sua delicada exuberância, com seu jeito contagiantemente alegre que herdou dos pais.
É dela uma das frases mais emocionantes que li, uma semana depois de nosso primeiro encontro, em 2013: “FOI UM SONHO MUITO BOM, DO QUAL ME RECUSO A ACORDAR”...

Qualquer dia desses conseguiremos trazer também o patriarca e os demais filhos para brincarmos de AMIGOS DOURADOS, porque as ruas de Glória estão impregnadas dessa família de pessoas do bem. Principalmente o lado esquerdo do final da descida de quem vem da quarta para a quinta linha, cercanias do famoso “Bar e Sorveteria Copacabana” e da já citada “Casa Nordestina”. Ou, para os boêmios, quem olha do "Bar do Mr. Jack"...
ANTONIO DOARTE



JOSÉ DE AZEVEDO e APARECIDA MARTINS AZEVEDO são os pioneiros desta nossa especialíssima QUINQUAGÉSIMA edição da série “QUEM SOMOS NÓS – Histórias sem fim”...
Esta data marca os SETENTA E NOVE ANOS do nascimento desse que foi um dos homens que mais amaram nossa GLÓRIA DE DOURADOS.
Nasceram ambos em 1937 no Estado de São Paulo. Conheceram-se quando tinham cerca de 14 anos. Ele, encantado pela beleza e meiguice da garota, esforçava-se por lhe enviar umas paçoquinhas, pelo irmão dela, maneira de lhe demonstrar seu interesse. Depois descobriu que o portador comia quase todas, mas o importante mesmo é que ele vivia feliz por pensar que estava “agradando” a mocinha.
Ele terminou mudando-se para Mato Grosso e só em 1955, vencido pela paixão, foi que “bateu o barro” nela, por carta, e colou. Casaram-se em 1957.
Um dos primeiros e mais importantes feitos de JOSÉ DE AZEVEDO foi, segundo ele, “encontrar, escolher e conquistar para viver consigo a vida inteira uma criaturinha tão sublime quanto APARECIDA MARTINS AZEVEDO, a quem ele chamava simplesmente CIDA”.
Depois de mais de três décadas em que não nos víamos, ela estava preparando um jantarzinho para nós e ele me disse: “Olha, Antonio, como minha eterna namoradinha continua linda”!
Quem, afinal, foi JOSÉ DE AZEVEDO?
Bem, há um antigo adágio popular que diz: “O homem, para cumprir sua missão, deve pelo menos criar um filho, cultivar uma árvore e escrever um livro”.
Se apenas isso fosse o suficiente, já lhe sobrariam realizações, afinal, criou sete filhos, plantou e cultivou flores e árvores de montão e escreveu/publicou mais de uma dúzia de livros, tendo se tornado Membro da Academia Matogrossense de Letras.
Mesmo quando estava em tratamento, em Barretos, inventou a tal “Casa de apoio”, para acolher os pacientes que vinham (vêm) do nosso Estado.
Ainda lá, percebendo certo terreno baldio, contíguo ao GRANDE E IMPORTANTE HOSPITAL, pediu permissão para limpar o terreno e plantar flores naquele local.
Obtida a permissão, criou no lugar um jardim, que viria a vencer o concurso de melhor e mais bonita área ajardinada da cidade, carreando para o HOSPIRAL um prêmio de DEZ MIL REAIS.
Nem sempre simpático, nem sempre amável, mas completamente acessível e participante quando alguém, indivíduo ou coletividade, precisasse realmente dele. E os anseios da coletividade sempre prevaleciam sobre os interesses individuais.
O mais brilhante visionário, sonhador, idealizador e realizador que conheci.
Antes de se servir, procurava ver se todos estavam servidos ou tinham como se servir. Era capaz de dar voltas enormes, elastecer caminho, só para dar atenção a alguma família humilde, às vezes até levando um carrinho para um menino, ou uma boneca para uma menina cujos pais fossem REALMENTE desprovidos de recursos, mas nunca o vi gabar-se ou aproveitar-se desses gestos de gentileza e atenção.
Sabia contar histórias, escrevê-las com humor, sabia rir das piadas alheias e contar as próprias, gostava de chuva, de sol, do canto dos pássaros. Em sua casa existia uma radiola que ele ligava à noite, passando um disco com os cantos dos pássaros, os sons malucos dos insetos. Apagava as luzes para criar realismo. Chamava-se “Inferno Verde” o tal disco.
Tão extenso é o conjunto de realizações desse casal, que se torna impossível enumerar.
JOSÉ DE AZEVEDO fez o primeiro contato com a região que viria a ser Glória, quando tinha dezoito anos.
A mando do pai, MANOEL ALVES DE AZEVEDO, e depois de preparar uma boa matula de queijo e rapadura, viajou de bicicleta da Colônia de Itaporã até o Jateí (cerca de cem quilômetros) na época.
Ali chegando não se entusiasmou pelo local, mas ouviu rumores de que a uns quinze ou vinte quilômetros adiante seria criado um povoado. Rumou para lá, gostou e marcou um pedaço de terra.
Viveu, portanto, a realidade de Glória desde seu nascedouro, participando ativamente de tudo quanto ali veio a ser construído por cerca de meio século.
Peço-lhes licença para dar a palavra ao próprio JOSÉ DE AZEVEDO, transcrevendo a introdução que ele fez para o livro de sua autoria “HISTÓRIAS QUE VIVI”: “Um dia, tudo o que aqui relato ficará muito distante, como um sonho que passou. E para que alguém possa relembrar este sonho necessitará folhear as páginas deste modesto livro, que visa ser apenas um caminho deste sentimental passeio retrospectivo.
Escrevê-lo, foi tarefa difícil, dolorida. Não por desconhecimento dos fatos, pois, tendo vivido-os, estão nitidamente arquivados nos meandros da memória; bem como também guardei, com muito carinho, muitas peças vivas da nossa história, pensando em doar este acervo, à nossa cidade, quando ela vier a ter melhor consciência cultural.
Também dolorido foi relembrar, um a um, os bons amigos que tivemos e que conosco ombrearam, para construir esta comunidade. Gente que, com sua dedicação e amizade, nos marcaram de forma indelével e que já partiram para sempre. Muitas vezes, interrompi a feitura deste livro, impedido pelas fortes emoções provocadas pela lembrança de fatos felizes e companheiros profundamente estimados. Tinha que aguardar os sentimentos arrefecerem um pouco, para continuar o diálogo com o papel, senão o coração não aguentaria. E assim, solitariamente, com a caneta na mão, chorei muitas e doloridas lágrimas.
A Saudade é doce, mas também é cruel, impiedosa e mata.
Cheguei a Vila Glória, na flor de minha juventude, com 18 anos de idade.
Solteiro, algum tempo depois contraí núpcias com o grande amor de minha vida, a Aparecida, e ali nasceram nossos sete filhos, e ali os criamos...
Assim, vivi Glória de Dourados, com tudo o que ela teve ou tem de bom: amigos; tranquilidade; fartura; lutas; conquistas e epopéias. E também com tudo o que tinha ou tem que não seja bom: problemas de toda ordem; e sobretudo uma grande falta de amor a si própria.
Amo-a profundamente e por este amor nunca medi sacrifícios pessoais. Agora, sentindo que a contagem dos anos vai se avolumando, resolvi colocar no papel pelo menos parte daquilo que vivi e testemunhei ao longo desses anos porque senti, modéstia à parte, que sou um dos maiores repositórios de sua história, e nunca se sabe quando é a despedida final”.
E para finalizar, novamente transcrevo as palavras do próprio homenageado JOSÉ DE AZEVEDO: “Em Vila Glória vivemos CIDA e eu, cerca de quarenta e nove anos. Ali trabalhamos incansavelmente todo esse tempo, mais para a comunidade local do que para nós mesmos. Fui tabelião por 29 anos, escrivão do Juízo, participei da criação do Município, da instalação da Comarca, da criação da Paróquia Nossa Senhora da Glória, fui vereador na Câmara de Dourados, Prefeito em Glória por cinco mandatos. Cida foi escrivã substituta por mais de dez anos, Secretária Municipal de promoção social cinco vezes, três delas sem qualquer remuneração. Participamos da criação de quase tudo que nela existiu ou existe”.
Muito jovem tornou-se respeitado
em todos os lugares por onde andou. Sua palavra e seu comportamento tornaram-no merecedor de crédito em todos os cantos, por parte de todas as pessoas, inclusive no âmbito estadual e federal.
Desde seu primeiro mandato de Vereador por Dourados (com pouco mais de 20 anos de idade e tendo sido o mais votado no Estado de Mato Grosso), sua atuação foi além do próprio município que representava.
Num desses momentos vêmo-lo tratando com o próprio então Presidente da República, João Goulart (vide foto), no Rio de Janeiro. O mesmo Presidente, na recepção que lhe fazem em Dourados, o cumprimenta, tratando-o pelo nome e o abraça.
Dentre seus incontáveis feitos estão a criação do Município de Glória e a transformação de uma “vila” em uma das então mais prósperas cidades, com arrecadação das mais expressivas do Estado.
Foi um dos idealizadores e ativos participantes do MOVIMENTO NACIONAL PELA AUTONOMIA MUNICIPALISTA. Durante uma das reuniões, em Brasília, nosso pioneiro sofreu um desmaio. Quando acordou estava sendo cuidado pelo médico do então Presidente da República, José Sarney. O maluco havia se submetido havia três dias a uma séria intervenção cirúrgica e fugido do hospital direto para a tal reunião...
Dentre as honrarias em vida recebeu vários títulos de CIDADANIA de muitas localidades, dentre as quais a de “Cidadão do Estado da Bahia”.
Eis as últimas palavras que JOSÉ DE AZEVEDO nos escreveu, despedindo-se da vida pública: “Ao chegar ao final de meu último mandato como Prefeito desta cidade, quero agradecer a Deus por ter-me sempre inspirado e fortalecido diante das dificuldades, bem como render minhas homenagens aos pioneiros desta terra, bons companheiros de sertão que comigo tanto lutaram pelo bem da nossa amada GLÓRIA DE DOURADOS, dos quais jamais esquecerei”.
APARECIDA AZEVEDO e os sete filhos do casal (JOSÉ DO CARMO, MIRIAM, VALDIR, GILBERTO, SUELY, TANIA e ANELY) aproveitam essa oportunidade para enviar lembranças a todos os GLORIADOURADENSES, bem como a todos os que têm laços sentimentais com GLÓRIA DE DOURADOS.
Da prole dos AZEVEDO haveremos de falar futuramente, pois nossas histórias não têm fim...